sábado, 17 de maio de 2014

Entrevista: Professora eleva taxas de alfabetização com novo método em Presidente Prudente

Por meio de método que enfatiza a oralidade e o diálogo, a pesquisadora Onaide Mendonça elevou as taxas de alfabetização de escolas municipais em Presidente Prudente A combinação de princípios teóricos da linguística e da psicolinguística, tomando como ponto de partida as ideias e propostas de Paulo Freire, é o fundamento de um método de alfabetização desenvolvido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Presidente Prudente, pela professora e pesquisadora Onaide Schwartz Mendonça. A proposta, denominada de Método Sociolinguístico, foi adotada em escolas municipais de Presidente Prudente, com bons resultados: pesquisa realizada com 3,4 mil crianças do 1º e do 2º ano em 2011 e 2012 mostrou que, ao final de um ano letivo, 72,6% dos alunos estavam alfabetizados, proporção que sobe para 87,8% no 2º ano.
Em entrevista ao site de Educação, a pesquisadora conta como percebeu a possibilidade de fazer a junção de princípios teóricos e sua experiência em sala de aula, além de analisar a difusão do construtivismo no Brasil.
O método sociolinguístico resulta da combinação de sua experiência em sala de aula com seus estudos no mestrado e no doutorado. Como a senhora percebeu a possibilidade de fazer essa junção? Estar à frente de uma sala de alfabetização e não saber por onde começar é desastroso. Dá insegurança e pavor em função da responsabilidade que é ter um número significativo de crianças para ensinar a ler e escrever. Ao conhecer a filosofia de educação de Paulo Freire, bem como seu método de alfabetização e a importância que dá ao diálogo, vi uma oportunidade de trazer a realidade das crianças para a sala de aula e garantir o seu interesse pelo mundo da leitura e da escrita.Quais foram os pontos de contato entre esses dois universos que deram origem ao método?Paulo Freire oferece a possibilidade de desenvolver a oralidade e ainda dá conta de ensinar os conteúdos específicos de língua organizando o trabalho do alfabetizador. Assim, verifiquei que se por um lado o construtivismo olha para o indivíduo, por outro, Freire vê a importância da socialização e quer todos os alunos lendo e escrevendo com autonomia, e ainda, capazes de intervir criticamente no cotidiano e no mundo em geral.Paralelamente, as descobertas construtivistas de Emília Ferreiro nos ajudaram a direcionar atividades adequadas às dificuldades de cada criança para intervir pontualmente a fim de que construam e avancem em seus níveis de aprendizagem.O que chamou sua atenção na proposta de Paulo Freire e como foi a transposição dessa proposta para a alfabetização de crianças?O diálogo me chamou muito a atenção, pois envolve as crianças no processo de ensino/aprendizagem dando segurança e liberdade para questionarem o professor, assim não ficam com dúvidas sobre os conteúdos e aprendem a argumentar.A ficha de descoberta é algo mágico para as crianças porque, ao apresentar três famílias silábicas de uma só vez, amplia rapidamente o repertório de conhecimento delas, o que possibilita que aprendam rápido e com alegria, sentindo-se capazes de descobrir, ler e escrever sozinhas cuja conquista valorizam muito.A transposição para a proposta de Freire para crianças é extremamente simples, pois é só adequar à faixa etária das crianças o nível de questionamento e os textos a serem trabalhados nas palavras geradoras.A partir de sua experiência e pesquisas, como a senhora analisa a maneira como se deu a difusão do construtivismo no Brasil?As pessoas envolvidas com a alfabetização precisam compreender que construtivismo não émétodo de ensino, mas teoria de aprendizagem. Entretanto, no Brasil, a psicogênese da língua escrita foi divulgada como metodologia. As contribuições dessa teoria podem auxiliar muito a alfabetização desde que utilizadas corretamente, mas não foi o que ocorreu.As secretarias de educação tentaram estabelecer uma relação entre as descobertas teóricas (os períodos e níveis de escrita) de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky e a sala de aula, mas sob uma ótica equivocada. O problema é a ênfase no letramento, ou seja, os usos que se faz da leitura e da escrita, que, entretanto, as crianças ainda não dominam, em detrimento da alfabetização propriamente dita.Algumas práticas que se tornaram difundidas acabam tendo o efeito contrário do esperado: ao invés dos alunos ganharem autonomia, o processo acaba ficando centralizado no professor porque os alunos ficam sem elementos para avançar.Por exemplo, o ensino sistemático com a leitura do alfabeto foi banido, pois sugerem que seja recitado ou cantado. Ora, o alfabeto foi criado pela humanidade para ser “lido”. Para que a alfabetização ocorra de modo eficiente, a primeira providencia é o professor explicitar o que e quais são as letras do alfabeto, sua combinação na produção e leitura de sílabas, palavras e textos. Isso é o básico da alfabetização que foi excluído das propostas oficiais.Os professores também foram orientados a ler histórias, parlendas, poesias para as crianças e, em seguida, elas recontam o texto que é reescrito pelo professor na lousa. Esse trabalho deve ser feito diariamente até que os alunos decorem a história e a cópia do texto, ou seja, a cartilha foi tão criticada por fazer a leitura mecânica das famílias silábicas e em pleno século XXI os professores têm feito crianças decorarem textos inteiros.Ler textos para os alunos é indispensável, porém ficar questionando sobre o título, autoria, gênero textual sem fornecer as informações necessárias para que os alunos realmente aprendam a ler e escrever é um tremendo equívoco que resultará na produção de futuros analfabetos jovens e adultos.Erro semelhante seria limitar o trabalho aos aspectos técnicos da língua e se esquecer de mostrar a função social da leitura e da escrita e os diferentes gêneros textuais. Defendemos que se deve trabalhar tanto a alfabetização como o letramento em sala de aula, pois um complementa o outro para a formação de leitores e escritores autônomos.Esse cenário só será modificado no dia em que os administradores da educação enxergarem que alfabetização é ensino de língua materna. Para assegurar que o profissional saiba o que está fazendo é indispensável prática, experiência de sala de aula, porque a sala de aula é o diferencial em alfabetização. É nela que se vê o que funciona para solucionar problemas de aprendizagem e se aprende a elaborar as melhores estratégias de ensino que garantem a aprendizagem.Um discurso frequente na educação é o de que a experiência dos professores deve ser respeitada e aproveitada, porém, muitas vezes, quando alguém que veio da sala de aula se pronuncia de forma contrária às orientações oficiais é desqualificado. Ninguém ensina o que não sabe.Como vem sendo a aplicação do método sociolinguístico na rede pública de Presidente Prudente? Nem a secretaria de educação de Presidente Prudente nem os professores estavam contentes com os resultados da proposta que vinha sendo utilizada, por isso nos pediram ajuda.Os professores sentiam necessidade de trabalhar a sílaba como estratégia que agiliza a aprendizagem das crianças, mas não queriam fazer um trabalho mecânico como o das cartilhas tradicionais. Apresentar as sílabas aos alunos acelera a alfabetização, mas como, em função das orientações oficiais, este trabalho não podia ser realizado, alguns professores o faziam escondido.Assim, quando tomaram contato com nossa proposta metodológica e sugestões práticas de atividades, enxergaram a possibilidade de realizar um trabalho mais exitoso. Inicialmente, mais da metade dos professores da rede municipal de Presidente Prudente aderiram à proposta.Uma das dificuldades da implantação da metodologia foi os professores entenderem e incorporarem o diálogo em sua prática. Alguns acham que conversar com as crianças é perda de tempo. Não percebem que o diálogo desenvolve o respeito mútuo, o aspecto cognitivo, valores, além de motivar para a aprendizagem. A maioria já reconheceu a importância e pratica o diálogo.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
  • Revista Educação Uol:
http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/0/professora-eleva-taxas-de-alfabetizacao-com-novo-metodo-307638-1.asp acessado em 16/05/2014 as 00:59

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